Ah, por favor! Pelo amor de Deus! Deixe de brincadeira! É sério que você só vai me oferecer uma toalha? Já passou das três e eu fiz questão de caminhar por horas no temporal até alcançar sua porta, mulher! Ignorei o vento frio, os carros na contramão e os bandidos da região, chutei cachorros, errei a rua, fiz da camiseta minha capa de chuva. É sério que depois de toda essa cena você não vai me ouvir? Vai reclamar do cheiro de cigarro? Da minha cara de resfriado? Pela quantidade de lama nos meus sapatos? Da água escorrendo no seu tapete?
Não! Eu não me despenquei até aqui pela toalha. Não me desviei do caminho; sei muito bem onde devo estar e o que ando sentindo. Sei de cor as palavras que devo dizer, tá na agenda o que preciso fazer. Não precisa me recepcionar, não quero remédios, seu chá, ou seu telefone. Tudo que eu quero é um pedacinho da sua atenção, dela tenho doutorado, dela entendo muito bem, dela eu dou conta. Não quero seu colo, seu feijão, sua indecência. Se corri quilômetros até aqui, não foi só pelo calor do seu corpo, por um cafuné ou pelo cheiro da sua comida. Não vim pra falar de documentos, dinheiro, quadros, livros, peixes, fotos ou dos discos que se foram contigo.
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